Intenção de compra de imóveis cai ao menor nível desde 2019 em meio à escassez de crédito
Intenção de compra de imóveis cai ao menor nível desde 2019, afetada por crédito escasso e juros altos, mas investidores seguem ativos.
Apesar do bom momento dos últimos anos, a intenção de compra de imóveis é a menor do Brasil desde 2025.
De acordo com a pesquisa Raio X FipeZAP referente ao segundo trimestre, apenas 33% dos entrevistados manifestaram intenção de comprar uma casa ou apartamento nos próximos três meses.
Esse índice já havia sido de 35% no início do ano, mostrando um declínio que reflete o ambiente econômico e de crédito mais restrito.
Esse comportamento não surge por acaso.
O setor imobiliário tem enfrentado dificuldades devido à limitação do crédito habitacional, elemento essencial para sustentar a demanda de médio e alto padrão.
A retração está diretamente ligada ao enfraquecimento da poupança, que é a principal fonte de recursos do Sistema Brasileiro de Poupança e Empréstimo (SBPE).
Com menos depósitos, os bancos têm menor capacidade de liberar financiamentos para quem deseja comprar imóveis.
Outro fator que está afetando a intenção de compra de imóveis é a taxa Selic, que chegou a girar em torno de 15% ao final de junho.
Os juros elevados encarecem os financiamentos e reduzem a atratividade de novos projetos no setor da construção civil.
Embora as instituições financeiras estejam aumentando a fatia de crédito destinada às pessoas físicas, as operações com recursos do SBPE acumuladas em 12 meses começaram a cair a partir de abril, acentuando o cenário de restrição.
Investidores seguem em movimento
Apesar da queda na intenção de compra por parte de consumidores finais, o levantamento mostra que os investidores continuam ativos.
A participação deles entre os compradores nos últimos 12 meses subiu de 31% para 43%.
Na prática, isso significa que, mesmo em meio às dificuldades de crédito, cresce o número de pessoas interessadas em adquirir imóveis para alugar ou revender.
Além disso, a pesquisa também revela que, entre março e junho de 2025, as compras com objetivo de investimento avançaram de 36% para 38%.
Essa fatia do mercado busca oportunidades em um momento em que muitos compradores encontram barreiras para financiar a casa própria.
Negociações com desconto se intensificam
Outro destaque do relatório é o aumento das transações com descontos.
No segundo trimestre, 66% das negociações de imóveis incluíram algum tipo de abatimento no valor final, índice acima da média histórica de 64%.
O desconto médio aplicado foi de 7%, mas, nas operações em que houve barganha efetiva, a redução chegou a 10% sobre o preço inicialmente anunciado.
Esse comportamento reflete tanto a pressão por liquidez por parte dos vendedores quanto a postura mais cautelosa dos compradores, que aproveitam o momento para negociar condições mais vantajosas.
Percepção de preços continua negativa
Mesmo com a maior margem para negociação, a percepção geral dos consumidores sobre os valores praticados segue crítica.
Sete em cada dez entrevistados (71%) consideram os preços dos imóveis altos ou muito altos.
Entre aqueles que já compraram imóveis recentemente, essa visão cai para 60%. Já entre os proprietários, o percentual é de 64%.
Essa diferença de percepção sugere que, embora exista certo consenso sobre o encarecimento do setor, quem efetivamente está no mercado tende a enxergar um pouco mais de racionalidade nos preços, especialmente quando consegue negociar descontos relevantes.
Um mercado em transição
Em resumo, os números apontam para um mercado imobiliário em transição.
De um lado, a intenção de compra para moradia cai ao menor nível em seis anos, pressionada pela escassez de crédito e pelo peso dos juros elevados.
De outro, investidores enxergam oportunidade de aproveitar descontos e retornos futuros em aluguel ou revenda.
Esse cenário reforça o caráter dual do setor em 2025: retração no consumo de imóveis para uso próprio, mas resiliência e até expansão no nicho de investimentos.
Enquanto não houver maior estabilidade no crédito e uma queda mais consistente da taxa Selic, a expectativa é de que essa tendência persista.